Como o autoconhecimento referente aos seus papéis no mundo pode afetar o seu posicionamento e manter o rumo de sua jornada. 

Pode parecer óbvio, mas, talvez para muitos, esta seja a questão mais difícil de se responder: “Quem é você?”. Em algumas palestras, após contar uma parábola sobre conscientização e fazer uma rápida apresentação pessoal, peço aos participantes que coloquem seus nomes em um prisma de papel e que se apresentem por escrito no verso. Como é curioso ver as expressões faciais que se formam nos instantes seguintes. Mas, ao final do tempo concedido, é comum observar que alguns se resumem simplesmente em uma única linha escrita no verso, enquanto outros, aparentemente ainda confusos com seus diálogos internos, retornam perguntando sobre o que devem escrever.

Armadilhas da vida

armadilha

Desde que nascemos e ao longo dos anos que se seguem, somos diariamente apresentados a uma realidade e a um conjunto de crenças e valores pertencentes ao sistema em que estamos inseridos. Além disso, com base em nossas características inatas, experiências vividas e do livre arbítrio, seguimos assumindo premissas como verdades e formulando nossas próprias indagações. Não há dúvida de que toda essa dinâmica torna cada indivíduo único perante o universo. Por outro lado, somos seres “fisiologicamente concebidos” para vivermos em sociedade e buscarmos soluções comuns para nossas necessidades. Então, aos poucos, vamos caindo nessa armadilha, deixando de lado a tal individualidade e aprendemos a ser cada vez mais parte integrante de um todo. Assim, fatalmente após um longo período de cumprimento de rotinas e obrigações, começam a surgir as frustrações diante das fracassadas tentativas de felicidade.

Paradoxo

paradoxo

Você já deve ter ouvido inúmeras vezes a seguinte frase: “Qualquer caminho é válido quando não se sabe para aonde quer ir!”. Mas o fato é que o pensamento inverso também se aplica, ou seja: mesmo que você saiba para aonde quer ir, nenhum caminho é válido se você não souber onde está! Isso faz algum sentido para você?

Às vezes, já estamos onde queríamos estar ou estamos muito próximo disso. Porém, por diversas vezes, por estarmos insatisfeitos, empenhamos energia e tempo em uma jornada que acaba nos trazendo de volta ao ponto inicial. Muitas das vezes isso ocorre porque somos influenciados a acreditar em padrões e conceitos que não nos representam. É o que se chama de falta de congruência, a qual Gandhi se referia: “Felicidade é quando o que se fala, o que se pensa e o que se faz estão em plena harmonia.” (neste ponto, peço humildemente licença para também incluir “o que se sente”, pois também somos seres sensitivos e ignorar nossas “intuições” seria como ter asas e preferir caminhar!).

A maioria das frustrações vêm do fato de não nos aceitarmos da forma como somos e de vivermos tentando atender expectativas alheias, sem ao menos ter havido um alinhamento prévio. Embora possa parecer paradoxal, é através da individualidade que nos tornamos melhores, ao mesmo tempo em que desenvolvemos a empatia a medida que entendemos que cada pessoa trava todo dia a sua própria batalha.

Consciência daquilo que somos

Voltando às apresentações pessoais descritas anteriormente e indo um pouco além, dependendo do momento (necessidades imediatas) da vida de cada participante, do nível de autoconhecimento e da consciência adquirida (significado atribuído aos seus papéis), os participantes mais “preparados” irão se apresentar possivelmente de três formas distintas:

  • Os reativos – são mais suscetíveis às influências externas, cujas necessidades básicas precisam ser atendidas e que se esforçam para atender a terceiros. Estes irão se apresentar descrevendo a parte visível para a sociedade, ou seja, suas posses, seus cargos e suas conquistas; (Tenho!)
  • Os equilibrados – são realizados em suas funções, atendem a um chamado e colocam seus dons – competências inatas e habilidades adquiridas – em prol da humanidade. Estes irão se apresentar descrevendo o que fazem e como a tal atividade os fazem se sentirem realizados; (Faço!)
  • Os evoluídos – são mais espiritualizados, cuja existência se justifica através de um propósito maior e, em maior ou menor grau, estão mais voltados a causas humanitárias. Estes irão se apresentar como se veem de fato. Conseguem responder sem embaraço a perguntas do tipo: “Quem é você quando não está fazendo nada e não tem ninguém olhando?” (Sou!)

A essa altura, talvez você esteja se analisando e pensando em como foi a sua última apresentação pessoal e, talvez ainda, esteja se julgando se considerando menos evoluído do que outros. Mas devemos evitar tais comparações, pois somos únicos e, de uma forma ou de outra, todos temos diferentes níveis de consciência em diferentes momentos e sobre diferentes aspectos da vida.

Mais que identidade: Papéis!

pape do ser humano

Certa vez em uma negociação salarial, o dono da empresa iniciou falando: “Agora você está falando com diretor da empresa e não mais com o colega de fim de semana.”. Então pensei: “Como assim?”, “Somos seres únicos e indivisíveis!” e “Como separar uma coisa da outra e ainda ser capaz de agir com naturalidade no fim de semana, caso a negociação não seja favorável?”. Pois é assim mesmo que funciona. Ter consciência de todos os nossos papéis nos permite equilibrar nossas necessidades, diante dessa malha de conexões que sustentamos a fim de mantermos o suporte (emocional, profissional, pessoal, financeiro entre tantos outros) necessário para vivermos. Isto é o que de fato significa “ter uma identidade”!

Encerro compartilhando uma memória afetiva, uma ópera italiana, normalmente apreciada aos domingos em família, acompanhada de uma generosa porção “pasta e vino”. Neste trecho da ária, Rodolfo (um poeta parisiense) se apresenta a Mimi (uma florista que sofre de tuberculose), iniciando o drama romântico sobre o qual versa a obra.

Che gelida manina – La bohème

Aspetti, signorina
Le dirò con due parole
Chi son, e che faccio
Come vivo. Vuole?

Chi son?
Sono un poeta
Che cosa faccio? Scrivo
E come vivo? Vivo!

Ricardo Cister

Ricardo Cister

MSC, PMP, QMSLA, MASTER COACH.

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Identidade! Por que ter uma?